Entrevista com Luís Narvion, COO da EFFICAZX, sobre as Implicações Éticas da IA nas Empresas

Q1: Luís, a Inteligência Artificial está a transformar rapidamente o mundo empresarial. Quais são as principais implicações éticas da IA que as empresas devem ter em consideração?

Luís Narvion: A IA traz enormes benefícios para as empresas, mas também levanta questões éticas muito importantes. As principais implicações giram em torno de três áreas: transparênciapreconceitos algorítmicos e privacidade de dados.

transparência é crucial, porque muitos sistemas de IA funcionam como uma “caixa negra”, onde as decisões tomadas são difíceis de explicar. Isto pode criar um problema de confiança, tanto para os clientes como para os reguladores.

As decisões enviesadas são outro risco ético significativo. A IA é tão imparcial quanto os dados com os quais é treinada, o que significa que, se esses dados contiverem preconceitos de género, raça ou classe, o sistema pode replicá-los.

Por fim, a privacidade de dados é um dos grandes dilemas da era digital. As empresas precisam garantir que utilizam os dados dos clientes de maneira segura e de acordo com regulamentos, como o RGPD, protegendo a privacidade e os direitos individuais.

Q2: Luís, a utilização de IA em empresas e instituições públicas está a crescer rapidamente. Quais são os desafios éticos específicos que identifica no contexto empresarial e institucional em Portugal?

Luís Narvion: Em Portugal, tanto no setor privado como público, a adoção de IA traz desafios éticos que precisam ser cuidadosamente abordados. No contexto empresarial, o maior desafio é garantir que a IA seja implementada de forma que respeite a privacidade e evite discriminação. Por exemplo, em setores como a banca ou os seguros, algoritmos de IA são usados para aprovar créditos ou calcular prémios de seguros. Se esses sistemas forem alimentados por dados enviesados, podem perpetuar a discriminação contra certos grupos, como mulheres ou minorias étnicas.

Nas instituições públicas, o uso de IA para processos como a distribuição de recursos ou a gestão de serviços públicoslevanta questões de transparência e justiça. Um bom exemplo é o uso de IA na alocação de serviços de saúde ou benefícios sociais. Aqui, garantir a transparência dos processos é vital para que os cidadãos compreendam como e por que razão determinadas decisões foram tomadas. A Declaração de Lisboa enfatiza a necessidade de transparência, algo que também é refletido no AI Act da UE, que exige que todos os sistemas de IA de alto risco sejam auditáveis e explicáveis.

 

Q3: A União Europeia, com o AI Act, tem vindo a criar regulamentações para lidar com estas questões. Como é que a EFFICAZX está a ajudar as empresas a garantir conformidade com estas normas?

Luís Narvion: O AI Act da UE é um avanço importante para garantir que a IA é utilizada de maneira ética e segura. Na EFFICAZX, desenvolvemos as nossas soluções com um foco claro na compliance. Ajudamos as empresas a garantir que os seus sistemas de IA estão alinhados com as regulamentações europeias e nacionais, como o AI Act e o RGPD.

As nossas soluções são desenhadas para serem transparentes e explicáveis, o que significa que as empresas podem monitorizar e justificar as decisões automatizadas dos seus sistemas. Além disso, trabalhamos com as empresas para auditar e corrigir potenciais preconceitos algorítmicos, assegurando que as suas IA funcionam de forma justa e inclusiva.

Também temos uma forte ênfase na proteção de dados, ajudando as empresas a implementar políticas robustas de gestão de dados, sempre em conformidade com as regulamentações.

Q3: Como é que a EFFICAZX recomenda que empresas e instituições públicas portuguesas lidem com estas questões éticas?

Luís Narvion: A nossa abordagem na EFFICAZX é sempre proativa e baseada em boas práticas éticas e legais. Para empresas e instituições públicas em Portugal, fazemos várias recomendações práticas:

  1. Auditoria de Dados e Algoritmos: Recomendamos que todas as organizações realizem uma auditoria rigorosa dos dados utilizados para treinar os algoritmos. A auditoria deve procurar identificar preconceitos que possam afetar negativamente os resultados. Um exemplo prático: uma instituição de saúde pública que utiliza IA para priorizar pacientes deve garantir que os dados de saúde refletem adequadamente as populações vulneráveis, evitando assim a exclusão ou discriminação de certos grupos, como idosos ou minorias.
  2. Explicabilidade e Transparência: Tanto a Declaração de Lisboa como o AI Act da UE exigem que os sistemas de IA sejam explicáveis. No setor público, por exemplo, se uma IA for utilizada para distribuir recursos num município, as instituições precisam de ser transparentes quanto ao funcionamento do sistema, garantindo que os cidadãos podem entender como foram tomadas as decisões. Para ajudar nesse sentido, oferecemos ferramentas de IA que permitem às organizações explicar cada etapa da decisão tomada pelo algoritmo.
  3. Conformidade Legal e Ética: A conformidade com o AI Act é crucial, especialmente para as empresas e organizações que utilizam IA em processos de alto risco, como o setor financeiro ou a administração pública. A nossa recomendação é que as empresas implementem políticas claras de governança de IA, assegurando que estão em conformidade com a legislação europeia e nacional. Por exemplo, instituições financeiras que utilizam IA para aprovações de crédito devem garantir que cumprem as normas de proteção de dados e explicabilidade estabelecidas pelo RGPD e pelo AI Act.

 

 

Q4: Em termos de riscos associados à utilização da IA, como é que a EFFICAZX ajuda as empresas a mitigar problemas como a discriminação ou a falta de transparência?

Luís Narvion: Na EFFICAZX, abordamos estas questões com uma combinação de auditorias de IA e ferramentas de monitorização contínua. Analisamos os dados que alimentam os sistemas de IA para identificar potenciais fontes de discriminação e preconceito. Isto envolve tanto uma análise técnica dos algoritmos, quanto uma análise contextual dos dados. Se identificarmos preconceitos, oferecemos soluções para treinar os algoritmos de forma mais equilibrada e representativa.

Em relação à transparência, as nossas soluções são desenhadas para que as empresas possam fornecer justificações claras e compreensíveis para cada decisão tomada pelos sistemas de IA, algo essencial não só para manter a confiança dos clientes, mas também para estar em conformidade com o AI Act, que exige explicabilidade nos processos automatizados.

Q5: Pode dar-nos exemplos práticos de como as soluções da EFFICAZX podem ajudar as empresas e instituições públicas portuguesas a cumprir essas exigências?

Luís Narvion: Claro. Um exemplo recente foi o trabalho que desenvolvemos com uma instituição de saúde pública no Brasil. Saliento que temos uma vastíssima experiência e histórico empresarial neste mercado. No caso em concreto, ajudámos a implementar uma solução de IA para otimizar a gestão de recursos hospitalares. Garantimos que a IA foi treinada com dados equilibrados, de forma a que o sistema pudesse distribuir camas hospitalares de forma justa entre todos os pacientes, sem prejudicar grupos vulneráveis.

Outro exemplo é o nosso trabalho também no mercado brasileiro com uma empresa de telecomunicações, onde implementámos uma solução de IA para prever o churn de clientes. Aqui, foi essencial garantir que o sistema não discriminava com base em dados enviesados, como localização geográfica ou perfil socioeconómico. Além disso, ajudámos a empresa a garantir que o sistema estivesse em conformidade com o AI Act, explicando claramente os motivos por trás das previsões e das ações recomendadas pelo sistema.

 

Q6: Com tantas oportunidades e desafios, o que é que recomendaria às empresas que estão a começar a integrar IA nas suas operações?

Luís Narvion: A minha recomendação principal é começar com uma abordagem estratégica e ética. A IA pode ser extremamente poderosa, mas as empresas precisam de garantir que estão a utilizar esta tecnologia de forma responsável. Primeiro, aconselho que invistam na conformidade desde o início, assegurando que os sistemas estão alinhados com regulamentos como o AI Act e o RGPD. Segundo, devem adotar práticas de monitorização contínua, para garantir que os seus sistemas de IA permanecem justos e transparentes ao longo do tempo. Por fim, devem sempre incluir uma componente humana nas decisões automatizadas. A IA é uma ferramenta que deve complementar a tomada de decisão humana, e não substituí-la completamente.

 

Q7: Como é que a EFFICAZX vê o futuro da IA nas empresas?

Luís Narvion: Estamos muito otimistas quanto ao futuro da IA. Acreditamos que, quando utilizada de forma ética e responsável, a IA pode transformar as empresas, tornando-as mais eficientes, inovadoras e competitivas. No entanto, é crucial que as empresas estejam conscientes dos riscos e das implicações éticas. Na EFFICAZX, o nosso foco é ajudar as empresas a navegar esse futuro com confiança, oferecendo soluções que equilibram inovação tecnológica com responsabilidade e conformidade legal. Afinal, a verdadeira inovação surge quando tecnologia e ética andam de mãos dadas.

 

 

Q8: Com tantas regulamentações em vigor, o que é que considera ser o próximo passo para garantir que as empresas e instituições públicas em Portugal utilizam a IA de forma ética?

Luís Narvion: O próximo passo é, sem dúvida, educação e capacitação. As empresas e instituições públicas precisam de compreender não apenas os benefícios da IA, mas também os seus riscos e responsabilidades.

formação contínua sobre ética na IA e conformidade legal deve fazer parte das operações de qualquer organização que utilize estas tecnologias. Na EFFICAZX, estamos a trabalhar para desenvolver programas de formação que ajudem as empresas a navegar por este novo cenário regulatório, garantindo que utilizam a IA de forma ética, responsável e sustentável.